Comer muito em pouco tempo, mesmo sem estar com fome, e não ter controle sobre a quantidade de alimentos. Essas são as principais características do Transtorno da Compulsão Alimentar, distúrbio que atinge cerca de 13% das mulheres brasileiras, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema pode resultar em excesso de peso, redução na qualidade do sono e aumento nos níveis do hormônio do estresse, o cortisol.
Os distúrbios alimentares normalmente surgem de uma visão distorcida da própria imagem corporal. Apesar de ocorrer em ambos os sexos, é mais comum em mulheres durante a adolescência e início da fase adulta. Pessoas com histórico de depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo estão mais propensas a desenvolvê-los.
Para tratar desse assunto delicado e que envolve certos tabus que impedem a busca por ajuda profissional, o Sempre Bem falou com a psicóloga clínica Adeliana Falcão e com a nutricionista Denise Lima.
O que é compulsão alimentar?
Para começar, é importante saber o que é e qual a causa desse problema. De acordo com Adeliana, “a compulsão alimentar é um distúrbio caracterizado pela grande ingestão de alimentos, associado à perda de controle do que está comendo, seguido do sentimento de culpa”, explica.
Em outras palavras, durante os episódios de compulsão alimentar, a pessoa costuma sentir que não tem controle sobre a própria saciedade e não consegue parar de comer.
O que causa?
Entre os fatores que podem ocasionar o transtorno, a psicóloga lista a não aceitação do próprio corpo, a pressão midiática por padrões de “beleza”, pressão familiar, questões identitárias, entre outros. Além disso, “os transtornos alimentares podem estar ligados a transtornos psicológicos, logo, episódios melancólicos, baixa autoestima e quadro depressivo podem aparecer como comorbidades”, afirma a profissional.
Sinais de alerta
Normalmente, a família é a primeira a perceber alterações no comportamento que podem indicar algum distúrbio alimentar. Por isso, é importante conhecer e observar os sintomas.
“Existem alguns sinais que podem deixar a família em alerta quando se trata de compulsão alimentar, dentre eles destaca-se o comer em segredo, a perda de controle em relação ao que se come, comer uma grande quantidade de alimentos em um curto espaço de tempo, isolamento social e baixa autoestima”, detalha Adeliana.
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Segundo a especialista, “na fase adolescente, a autoafirmação e as mudanças em relação ao trato familiar aparecem com muita força, portanto, é importante que o olhar se torne cada vez mais cuidadoso para não haver uma generalização dos sintomas”, pondera.
Compulsão alimentar e Obesidade
Todo excesso tem consequências, não é mesmo!? No caso da compulsão por comida, a obesidade é apenas uma delas. De acordo com a nutricionista Denise Lima, o aumento do peso corporal provocado por esse problema pode evoluir para uma obesidade mórbida, tornando o indivíduo suscetível a várias doenças, como diabetes, hipertensão e dislipidemia (gordura no sangue).
A saúde emocional, que é um elemento importante para o bem-estar do indivíduo, também é afetada por esse distúrbio. Segundo Adeliana, “tal quadro desencadeia isolamento social, ou por falta de interesse ou por vergonha, aumento dos pensamentos compulsivos relacionados à comida, desmotivação por atividades rotineiras e, consequentemente, mudança no relacionamento com a família e os amigos”, destaca.
Obesidade e Autoestima
A chance de a autoestima ser afetada por causa do aumento de peso é significativa. A psicóloga alerta que “a baixa autoestima pode provocar afastamento social, pensamentos de impotência, quadros melancólicos, sentimentos de solidão exacerbados, distanciamento de atividades antes desenvolvidas etc.”.
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Na adolescência, o aumento de peso pode ser motivo para queda no rendimento escolar, ou por desmotivação ou por pensamentos recorrentes de culpa. A profissional ainda alerta que o trato familiar pode ficar limitado a frases curtas e automatizadas, intercalando com momentos de explosão de sentimentos, como choro e raiva sem motivos claros.
Tratamento
O tratamento da obesidade ocasionada pelo transtorno da compulsão alimentar é multidisciplinar. Denise explica que precisa haver um acompanhamento multiprofissional relacionado à nutrição, exercício físico e suporte psicológico, aliando a reeducação alimentar à prática de atividades físicas e tomada de consciência corporal para adquirir mais qualidade de vida.
Adeliana ressalta que a investigação dos fatores biopsicossociais que interferem em tal quadro também é fundamental para as mudanças de hábitos alimentares. No caso do transtorno compulsivo alimentar, a figura do psicólogo é de extrema importância, uma vez que deve contribuir com a promoção do bem-estar mental.
O grande desafio é proporcionar ao indivíduo a consciência e estímulo para que ele seja um agente protagonista e modificador do seu estilo de vida. “Nesse processo, a compreensão e o apoio familiar são de suma importância para que o sujeito possa responder com eficácia a todo o tratamento sugerido”, completa a psicóloga.
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Fonte:
Adeliana FalcãoPsicóloga clínica e educacional e pós-graduanda em Neuropsicologia CRP 11/10517 | Instagram: @psicologiace |
Denise LimaNutricionista clínica com atuação em emagrecimento e transtornos alimentares | CRN 6/5952 |
Referências externas: Minha Vida | Vittude